A espada e a parede

A política serve para transformar as coisas, para prolongar situações ou para complicá-las definitivamente. A questão da confiança que Carles Puigdemont tirou da cartola para demonstrar sua astúcia (quanto dano a astúcia fez na política catalã!) parecia que seria um desses emaranhados que acabam explodindo tudo. O inquilino de Waterloo queria colocar Pedro Sánchez entre a cruz e a espada, mesmo que parecesse que a espada era feita de madeira e o muro, uma cortina de fumaça. Ele não teria sido o primeiro a ser esfaqueado por uma farpa afiada ou sufocado por gases tóxicos. O Primeiro-Ministro sabia perfeitamente que ninguém poderia forçá-lo a aprovar uma moção desta magnitude, mas se a aceitasse estaria a mostrar a sua fraqueza e a arriscar uma sessão imprevisível. No entanto, o líder dos Junts queria impor suas opções como se nada mais importante estivesse acontecendo no mundo e ameaçou rasgar o baralho se seu pedido não fosse atendido.

Na sexta-feira, na Suíça, o PSOE enviou José Luis Rodríguez Zapatero para negociar com Junts. Ou melhor ainda, reforçar a delegação com ele. O ex-presidente tem uma relação fluida com Puigdemont devido à sua posição favorável à anistia desde o início e porque ele arregaçou as mangas quando a comunicação foi interrompida. Eles não se parecem em nada, como em alguns casamentos, mas o relacionamento funciona, e ninguém nunca os viu brigando.

Puigdemont se recusa a permitir que Sánchez debata um voto de confiança

Zapatero é um leitor ávido de Jorge Luis Borges e até escreveu o prólogo de um de seus livros. Uma frase do escritor argentino que o político costuma usar é que “só perduram no tempo as coisas que não foram do tempo”, o que é uma forma de dizer que a única coisa pela qual é preciso lutar são as questões importantes e que há espaço para o resto, pois a história não nos exigirá isso.

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Já faz algum tempo que Junts tenta se assemelhar ao PNV e parecer mais pragmático do que raivoso, mais possibilista do que cínico. A renúncia de Puigdemont não é gratuita, mas tem pouco custo. Não fazia sentido que Sanchez preparasse um voto de desconfiança no voo de volta de Kiev. Borges também escreveu: “Não fale a menos que possa melhorar o silêncio.”