Em gratidão a Yamid Amat, um mestre das entrevistas

Ele tem muitos elogios. Mas eles nunca serão suficientes para agradecer a contribuição que seu nome representa para o jornalismo colombiano. Portanto, falar de Yamid Amat é aludir a um repórter incansável, um diretor visionário e um mestre em entrevistas em qualquer formato, seja rádio, televisão ou mídia impressa.
O jornal EL TIEMPO teve o privilégio de ser o veículo impresso onde suas entrevistas foram publicadas. Suas entrevistas com personalidades nacionais e internacionais foram publicadas em suas páginas dominicais.
A lista é longa: presidentes, juízes, atletas, ministros, governadores, prefeitos, guerrilheiros, paramilitares, figuras do mundo do entretenimento, da cultura e celebridades... citá-los a todos é impossível, já que as publicações ultrapassam mil nesses 23 anos.
A primeira entrevista de Yamid Amat neste jornal foi publicada em 28 de abril de 2002, com Andrés Pastrana, o então presidente cessante da Colômbia, e gerou grande comoção na mídia.

Yamid Amat entrevistando a senadora Ángelica Lozano. Foto: @AngelicaLozanoC
Desde então, muita tinta foi derramada; nomes, emoções e controvérsias preencheram as páginas deste jornal, tanto digitalmente quanto na versão impressa. Ao encerrarmos este ciclo, é hora de expressar nossa gratidão e prestar mais uma homenagem a Yamid Amat, um exemplo do jornalismo colombiano e mestre na arte de questionar.
E ao longo do caminho, Yamid enfrentou milhares de desafios e acumulou inúmeras histórias sobre cada personagem. Ele tem histórias como esta, que nos conta hoje, e que foi a entrevista mais difícil que ele já conduziu.
Foi quando César Gaviria foi eleito presidente e eu soube que ele tinha viajado para a Espanha. Eu viajei e estava hospedado no Hotel Mandarin. Eu o encontrei. Gaviria ficou surpreso e me perguntou como eu o havia encontrado. Gabo me contou. Ele concordou em me dar a entrevista com uma condição: me indicasse alguém sentado na sala de estar. Era o Rei Hussein da Jordânia. Gaviria me disse que me daria a entrevista se eu pudesse falar com o rei.
"É impossível", respondi. "Meu inglês não é suficiente para uma conversa."
–Então não vou falar, ele me disse.
Recorri à imaginação. Levantei-me e caminhei em direção ao rei. Vários agentes camuflados surgiram das sombras. Eu disse a eles: "Sou jornalista da Colômbia. Preciso, por favor, de uma pergunta para Vossa Majestade. É uma mensagem do Sr. Arrieta." Eles consultaram o rei. Ele concordou. Perguntei-lhe em um inglês terrível: "O que você acha da paz?" E o Rei Hussein me respondeu em um inglês perfeito, que eu obviamente não entendi. Ele disse: "Depende de qual paz você está me perguntando. Há paz entre o Norte e o Sul. Paz entre o Leste e o Oeste. Paz entre árabes e judeus. Paz entre os Estados Unidos e a Rússia... sobre qual paz você está me perguntando?" Eu respondi: "Obrigado, Vossa Majestade."

Jornalista colombiano Yamid Amat. Foto de : EL TIEMPO ARCHIVE
Para Yamid Amat, o segredo para ser um entrevistador versátil está em estar informado, e o sucesso de uma entrevista está em ouvir e compreender.
“A melhor entrevista que fiz foi com Fernando Botero Zea, durante o Processo 8.000.
"Você sabia que sabia?" perguntei.
"E Botero respondeu: 'Não. Eu não sabia'. Eu perguntei de volta: 'E se você não sabia, como você sabia que Samper sabia? Você sabia que Samper sabia?'", Yamid relembrou para esta homenagem.
Um símbolo José Yamid Amat Ruiz nasceu em Tunja em 2 de dezembro de 1941. Sua ligação com a mídia é longa, começando em meados da década de 1960, quando iniciou sua carreira na Emissora Monserrate. Durante esse período, trabalhou na RCN Televisión, na agência de notícias EFE e no extinto jornal El Espacio, onde escreveu a famosa coluna "Juan sin Miedo" (Juan sem Medo). Foi apresentador e diretor do programa Reportajes Caracol (na Caracol Televisión). No rádio, criou o programa "6h - 9h" na Caracol Radio, onde permaneceu até 1990. Também fundou a Radionet, um programa de notícias 24 horas, sete dias por semana. Foi diretor da Noticias Caracol Televisión e do Noticiero CM&, até que este último encerrou suas transmissões em novembro de 2024.

Yamid Amat escreve para o EL TIEMPO há 23 anos. Foto de : EL TIEMPO ARCHIVE
Em 2016, a Intermedio Editores (desta editora) publicou o primeiro livro de Amat – e o único até hoje – que é uma seleção de suas entrevistas dominicais no EL TIEMPO, intitulado ¡Cuidado con lo que dice!
Como um bom entrevistador, Yamid raramente concede entrevistas; no entanto, na ocasião deste lançamento, Amat relembrou seu encontro com o cantor Miguel Bosé.
“Lembro-me de quando fui entrevistar Miguel Bosé. Estávamos lá vários jornalistas, todos em ocasiões diferentes, e eles me disseram que eu só tinha cinco minutos. Miguel foi muito cauteloso porque não gosta de ser questionado sobre sua vida privada. Comecei a reportagem e, obviamente, conversei com ele sobre tudo, exceto sobre os assuntos completamente pessoais que ele não queria abordar. Depois de cinco minutos, eles entraram e disseram: 'Seu tempo acabou'. Então Miguel disse: 'Deixem isso para lá, eu quero continuar'. Passamos uma hora e meia conversando sobre tudo o que havia sido publicado”, disse ele naquela ocasião.
"A grande diferença entre trabalhar para a imprensa, para o rádio ou para a televisão é que a informação na imprensa continua sendo um documento escrito", acrescentou.

Foto: ARQUIVO EL TIEMPO
Não há dúvidas, então, de que este e outros momentos memoráveis fazem parte da gratidão desta editora para com um símbolo e mestre do jornalismo.
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