Hideo Kojima e Jordan Peele apresentam o videogame 'OD', o novo jogo de terror contemporâneo.

Hideo Kojima cria videogames "de autor": territórios onde narrativa, emoção e estética se entrelaçam com a experiência do jogador. Ele não tem medo de romper com o mainstream e transforma cada um de seus projetos em uma obra cuidadosamente orquestrada, um espaço onde medo, beleza e memória colidem em igual medida. "Metal Gear" e "Death Stranding" o consolidaram como um dos contadores de histórias mais singulares da indústria de videogames, mas Kojima sempre mantém o foco no cenário cinematográfico. Seu mais recente trabalho, "OD", concebido em colaboração com o cineasta Jordan Peele ('Corra!', 'Nope', 'Nós') e estrelado por Sophia Lillis ( 'IT', 'Eu Não Estou Bem Com Isso') e Hunter Schafer ( 'Euphoria', 'Jogos Vorazes: A Balada dos Pássaros e das Serpentes'), foi apresentado recentemente durante "Beyond the Strand", o evento que celebra o décimo aniversário da Kojima Productions, sua desenvolvedora de videogames.
O trailer apresentado para "OD" revela um terror silencioso, sufocante, quase físico. O hiper-realismo gráfico alcançado com a Unreal Engine torna-se um instrumento narrativo que faz o espaço e a luz respirarem, fazendo o medo ser sentido na pele do espectador. Nele, a protagonista, Lillis, acende velas em um quarto aparentemente silencioso, e seu gesto inocente e cotidiano desencadeia a presença de um monstro à espreita nas sombras. A câmera se aproxima do rosto da atriz para nos mostrar uma Sophia Lillis petrificada, enquanto mãos gigantes ameaçam agarrá-la.
É inevitável relembrar 'PT', aquele projeto inacabado que, apesar de sua brevidade, redefiniu os parâmetros do terror nos videogames e consagrou Kojima como um mestre do inquietante. Sua influência se estende por toda uma geração de jogos de terror que buscam provocar medo mais pela atmosfera do que pela ação direta. Títulos subsequentes, tanto de Kojima quanto de outros criadores, abraçaram essa tensão contida, esse medo silencioso que cresce em corredores estreitos, em sussurros inesperados e na sensação de que qualquer objeto cotidiano pode se tornar uma ameaça. Do horror psicológico de 'Visage' aos experimentos narrativos de 'Resident Evil: Village', pode-se sentir a marca daquele teaser inacabado que transformou a forma como o terror é contado nos videogames.
'OD' promete ser um experimento completo de narrativa e jogabilidade. Phil Spencer, chefe da Microsoft Gaming, destacou o compromisso com a inovação: "Damos aos criadores o poder de quebrar barreiras. 'OD' é visionário. Kojima está explorando novas maneiras de contar histórias, envolver o jogador e redefinir a experiência interativa." Suas palavras parecem reconhecer que não se trata apenas de jogar: trata-se de assistir, sentir e vivenciar.
No entanto, Kojima não se limitou a "OD". Durante a mesma apresentação, surpreendeu o público com o anúncio de "Death Stranding: Mosquito", uma animação que expande o universo de sua obra mais enigmática. A obra foca em um personagem descrito como "um cara que não presta" e exibe imagens carregadas de simbolismo: um homem nadando com um tentáculo emergindo do rosto; um confronto sob a chuva de Timefall com um carregador vestido com o icônico traje de "Death Stranding". Cada sequência parece concebida como um desafio ao espectador, um convite à reflexão sobre a fragilidade da vida, a conexão entre os seres e a densidade simbólica que caracteriza o universo de Kojima. A narrativa é deliberadamente mantida ambígua, e essa ambiguidade se torna uma fonte de beleza e mistério: o que não é dito, o que é intuído, o que nos força a olhar além da superfície.
Entre 'OD' e 'Mosquito', Kojima reafirma sua capacidade de surpreender, perturbar e maravilhar, e o faz sem concessões: lembra que o medo também pode ser território de reflexão, que o horror pode ser poesia e que o espectador-jogador, mais uma vez, se torna parte inseparável da história.
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