Qual é o gosto de um cachorro-quente com vinho tinto ou de um ceviche com vinho branco? Nós te contamos como foi.

Um cachorro-quente acompanhado de uma taça de vinho Tempranillo da região de Rioja (Espanha) e coberto com empanadas com guacamole. Quem diria: o sabor é espetacular. A 20ª edição da Expovinos, a feira vinícola mais importante do país, tem grandes promessas este ano, alinhadas ao seu lema "Vinho combina com tudo". Ela vai além da ideia de que um vinho pode ser harmonizado com pratos impensáveis, mas também de que uma garrafa é acessível a todos. Por isso, os organizadores decidiram transferir o evento de Corferias, onde foi realizado em três dias, e estendê-lo por duas semanas (até 14 de setembro) nas lojas de departamento Éxito e Carulla, espalhadas pelo país.
"Queremos dessacralizar, parar de colocar o vinho no Olimpo, em alturas inacessíveis, e colocá-lo em prática na nossa gastronomia e no nosso dia a dia. Essa é a mensagem que queremos transmitir ao colombiano médio, como nós: o vinho não é elitista, nem um grande negócio, nem inacessível", diz com emoção José Rafael Arango, sommelier consultor do Grupo Éxito.
Diante de um grupo de jornalistas, Arango lidera uma experiência na qual vinhos de diferentes castas serão degustados com ceviche, um petisco de chicharrón (torresmo) e o já mencionado cachorro-quente. O que parecia absurdo, ou absurdo, começa a fazer sentido quando um clássico ceviche de camarão é harmonizado com uma taça de vinho Albariño, uma casta que vem ganhando popularidade na Espanha.

Cachorro-quente e empanadas com uma taça de vinho Tempranillo. Foto: MAURICIO MORENO / EL TIEMPO
"Comida em primeiro lugar", alerta o sommelier, que percebe a ânsia do grupo em experimentar a bebida. " A ideia da harmonização é que o vinho não se sobreponha ao prato e o prato não se sobreponha ao vinho, mas sim que eles se complementem , se valorizem e tenham um sabor melhor. Não é a história frequentemente alardeada de que o vinho limpa o paladar para a próxima mordida. Não: o vinho não é uma vassoura; é um aliado que realça os sabores", continua Arango.
Num ato de mágica, a cebola, o tomate e o leite de camarão se misturam ao sabor suave do Albariño. Mas como saber se você está fazendo a combinação certa?

Ceviche com vinho Albariño, uma variedade de uva que vem ganhando popularidade na Espanha. Foto: MAURICIO MORENO / EL TIEMPO
O especialista explica que além de harmonizar a cor do vinho com a do alimento — técnica usada para combinar vinhos brancos com peixes e queijos, e vinhos tintos com carnes vermelhas —, três coisas devem ser levadas em consideração: o modo de preparo, o tipo de molho e a quantidade de gordura do alimento.
Uma questão de nomes Mais de duas décadas atrás, quando apenas Cabernet Sauvignon e Chardonnay estavam disponíveis no país, o vinho era reservado para momentos especiais e grandes celebrações.
No entanto, José Rafael acredita que nós, colombianos, temos sido muito críticos em relação aos pares, que temos um problema "semântico".
"Se eu disser ajiaco com vinho, a maioria das pessoas aqui vai pensar: 'Que vulgar!'. Mas na Alemanha, existe uma sopa chamada kartoffelsuppe, muito famosa, com toneladas de batatas, legumes e frango, e eles a servem com Pinot Noir. É um ajiaco alemão com vinho. É realmente delicioso", comenta. "É uma questão de preconceito: mondongo com vinho, ah não; mas tripa à madrilena, ahh, sim. Leitão com vinho: eca; mas leitão espanhol, não, delicioso."

O vinho grelhado harmoniza bem com um Carmenere do Chile ou um Malbec da Argentina. Foto: MAURICIO MORENO / EL TIEMPO
A seguinte combinação se enquadra na categoria de preconceito. O que o prato contém é digno das delícias do "palácio do colesterol": chunchullo, morcela, chouriço, carne bovina, carne de porco, batatas crioulas e bananas-da-terra maduras. "Mais uma vez: pense nisso e todos pedem cerveja; vinho está fora de questão, mas se fosse um churrasco argentino, seria diferente", acrescenta.
É hora de vinhos tintos de adstringência média a alta, como o Carmenère do Chile ou o Malbec da Argentina. "A adstringência é a identidade do vinho tinto", explica o sommelier.
Não há sobremesa. A razão é que harmonizar doces com vinho não é fácil. Para harmonizar com caramelo, mil-folhas ou doces, existem famílias de espumantes, mas é preciso garantir que eles não sejam muito secos para que funcionem. No entanto, há um alimento que não combina nada com vinho: chocolate.
"A única maneira de harmonizar seria com um vinho com maior teor alcoólico, o que existe, mas não é tão comum. O problema é que o chocolate sobrepõe-se ao sabor do vinho. É por isso que esta delícia doce combina melhor com destilados, como uísque ou tequila", conclui Arango, um advogado que mudou as leis de degustação de vinhos e degusta vinhos há mais de 20 anos.

A Expovinos acontecerá até 14 de setembro. Foto: MAURICIO MORENO / EL TIEMPO
- A maioria dos vinhos não é adequada para envelhecimento; no entanto, eles podem ser armazenados sob condições rigorosas para preservar seu sabor: em um local escuro, com 70% de umidade e temperatura entre 14 e 15 graus Celsius. O calor faz o vinho evoluir: se ele envelhecer por 10 anos, durará dois. Os vinhos são seres vivos e eventualmente morrem, ao contrário das bebidas destiladas, que são como o Drácula.
- Os vinhos mais caros são aqueles envelhecidos: alguns podem durar entre 10 e 20 anos. Há alguns que duram 100 anos. O problema é a rolha, que tem uma vida útil de 25 anos e depois se rompe.
- Cortiça sintética e tampas de rosca são soluções que surgiram no início da década de 1990, quando a cortiça natural se tornou escassa. A crise atingiu a Austrália.
- A ideia de produzir vinho a partir de múltiplas castas surgiu na Europa há quase 2.000 anos, devido à produção que ocorria nessas regiões. Por exemplo, em La Rioja (Espanha), as castas eram Tempranillo, Garnacha, Mazuelo (Cariñena) e Graciano, e em Bordeaux (França), Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot.
- Vinhos monovarietais são mais comuns no Novo Mundo do vinho: no Chile é o Carmenere; na Argentina é o Malbec; na Austrália é o Syrah; e na Nova Zelândia é o Sauvignon Blanc.
- Existem 24.000 variedades de uvas no mundo, mas apenas 50 têm qualidades para se tornarem vinho.
- Quando uma taça de vinho é girada, o líquido que escorre pelas paredes é conhecido como lágrimas, que se movem de acordo com o teor alcoólico da bebida. Quanto menor o teor alcoólico do vinho, mais rápido elas fluem; se o vinho ultrapassar 14 ou 15%, elas caem muito lentamente.
- Uma taça de vinho tem três partes: base, haste e bojo. Se você a segura pela base, é chamado de enólogo; se a segura pela haste, é um conhecedor; e se a segura pelo bojo, é um enólogo inexperiente.

José Rafael Arango é sommelier há 20 anos. Foto: MAURÍCIO MORENO / EL TIEMPO
A 20ª edição da Expovinos acontecerá até 14 de setembro nas lojas Carulla e Éxito em todo o país. Serão 800 vinhos a partir de 14.950 pesos. A feira também contará com as ofertas especiais de sempre: compre 2 e leve 3 em mais de 500 garrafas. O programa acadêmico acontecerá principalmente no Éxito Country, em Bogotá, e no Éxito Viva Envigado, em Medellín, às quintas, sextas, sábados e domingos do evento.
eltiempo