Rotina abençoada

Já faz mais de uma década que não tiro férias. Férias merecidas, como dizem meus entes queridos, considerando que trabalho até a exaustão. "Não é bom trabalhar tanto, meu filho", dizem meus pais . É verdade que, na minha adolescência e nos anos de universidade, eu adorava me desligar das minhas tarefas diárias durante os 31 dias de agosto, suando na praia de Cambrils (Tarragona) com minha turma de amigos. Eu odiava o mês de setembro. Mas este ano, depois de passar pouco mais de uma semana sem olhar para o celular, verificar e-mails, fazer um calendário ou planejar as próximas semanas, tenho que gritar aos quatro ventos que estava ansioso pelo fim dessas férias .

Estou louco? Vivo à margem da sociedade? Sou um esquisito? Talvez, se eu seguir o modus operandi do resto de nós, mortais, nesse aspecto. Porque amo minhas rotinas, sou apaixonado pelo meu trabalho e adoro minha disciplina habitual. Ou seja, acordar bem cedo, tomar café da manhã, ir à academia, escrever minha coluna para este jornal, planejar minhas colaborações no rádio, assim como minhas aparições na televisão e os shows de Nancys Rubias. Também dirigir o lançamento do novo álbum do grupo que represento (Fangoria) e suas turnês nacionais e internacionais. Ah... e dormir oito horas por dia . É isso que significa, eu acho, ter conseguido transformar seus hobbies em seu sustento. É a melhor coisa que pode acontecer a você: gostar do seu trabalho.

Claro, um certo grau de desconexão é necessário, mas isso não me convém. Sinto uma certa tristeza por todos aqueles que sofrem da sempre popular tristeza pós-férias . Aqueles que recorrem a fazer resoluções em setembro, quando deveríamos mantê-las o ano todo. Resoluções não são exclusividade de uma única estação, como as liquidações. Elas devem fazer parte da sua vida 365 dias por ano, e você não deve abandoná-las, entre outros motivos, porque as escolhemos porque nos fazem sentir bem.

Claro, nesses últimos dias aproveitei minha piscina, fiquei bêbado, li livros, visitei algumas exposições divinas e fui ao festival La Paloma (o meu favorito de todos). Mas você não acha que dá para fazer tudo isso ao mesmo tempo? Eu tenho muita clareza de que o tempo livre não deve excluir o trabalho, e vice-versa. Ambos devem te satisfazer igualmente. Além disso, para um autônomo como eu, não recebo salário no mês em que não estou trabalhando. Cada um pode fazer o que quiser, mas acho que férias são superestimadas .