Amir, um cantor pego na tempestade anti-israelense e antissemita

O cantor franco-israelense é alvo de uma campanha de difamação nas redes sociais liderada por movimentos pró-palestinos e pela extrema esquerda. Uma afronta ao homem que sempre sonhou em unir seu público.
Amir é a história de um cantor franco-israelense de 41 anos que quer cantar cantigas, mas se vê no meio do fogo cruzado da guerra entre israelenses e palestinos. Nos últimos seis dias, sua participação em dois festivais — Gardanne, na França, e Francofolies de Spa, na Bélgica — provocou reações indignadas de artistas, veiculadas nas redes sociais, inclusive de representantes eleitos da LFI (Federação Luxemburguesa de Cinema Francês).
Na França, tanto a CGT (Confederação Geral dos Sindicatos) quanto políticos da oposição na cidade de Gardanne, no departamento de Bouches-du-Rhône, criticaram o que chamaram de "provocação". Em Spa, uma dúzia de artistas emergentes, bem menos proeminentes que Amir, disseram estar "desconfortáveis" com a ideia de dividir o palco com o cantor.
Pule o anúncioTrês deles – a cantora franco-suíça Yoa e dois músicos do coletivo belga de arte de rua Who's That Girl – decidiram até mesmo jogar a toalha. " Prefiro permanecer alinhado com meus valores e meu compromisso com a Palestina", diz o primeiro. Em Paris, esse boicote não passou despercebido por Thomas Portes, representante da LFI, que imediatamente postou nas redes sociais : "Bravo a esses artistas!"
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Nos bastidores, a realidade é mais sombria. A gravadora de Amir, a Parlophone (Warner Music), denuncia uma "onda de ódio antissemita". Os organizadores do festival belga Francofolies reconhecem ter recebido inúmeras mensagens pedindo o cancelamento de Amir. No entanto, decidiram ignorá-las. Explicam que "escolheram programá-lo pelo que ele é", um cantor de música popular. "É exatamente isso que ele é: um artista pop de variedades que faz sucesso entre os mais jovens e sonha em unir seu público", explica Jean-Pierre Pasqualini, diretor de programação do canal de televisão Melody TV.
Laurent Haddad, conhecido como Amir, nasceu em Paris e viveu em Sarcelles, na região de Val-d'Oise, antes de seus pais se mudarem para Israel, quando ele tinha 8 anos. Foi nessa função que ele completou o serviço militar obrigatório de três anos como sargento. O movimento belga pró-palestino Liège Occupation Free transformou esse termo em "sargento do exército israelense", sendo, portanto, necessariamente cúmplice do "genocídio" no território palestino de Gaza.
No entanto, não se sabe se o cantor apoia Benjamin Netanyahu. Embora as redes sociais tenham descoberto um show que ele deu em Israel em 2014, "como todos os cantores populares, ele evita se envolver politicamente e mantém a neutralidade", insiste Jean-Pierre Pasqualini.
Enquanto estudava odontologia em Jerusalém, Amir acalentava a esperança de ter sucesso no canto. Em Israel, chegou à final da versão israelense do programa de talentos Nouvelle Star , em 2006. Alguns anos depois, lançou seu primeiro álbum, postou vídeos na internet a conselho de um amigo e foi descoberto pela TF1 para participar do The Voice. Ele, que sempre se considerou um cantor amador, viu-se arrastado para "uma bolha mágica" a 4.000 km de sua família, "entre o sonho e a realidade". Aos 30 anos, A carreira de Amir decolou, ele cantou sobre o amor, cativou o público familiar e exibiu um sorriso eterno em seu belo rosto. Tanto que, em 2016, a França o escolheu para representá-los no Eurovision, onde terminou em sexto lugar. A música "J'ai cherche " foi coescrita com Nazim, um muçulmano próximo, com quem cantaria " En face" em 2024, em prol da paz. Mesmo assim, a escolha de um franco-israelense para representar a França foi alvo de críticas nas redes sociais. Ele se opôs.
Pule o anúncioRadicado em Paris com a família, este faz-tudo, descrito como curioso e insaciável pelos amigos, chegou a tentar a sorte no teatro em 2023. "Ofereci-lhe o papel de Alfred Nakache, o campeão de natação deportado para Auschwitz", lembra o produtor Steve Suissa. "Amir não era ator, e o começo foi trabalhoso. Eu disse a ele: se você quer ter sucesso, tem que treinar natação e trabalhar seis horas por dia nas suas falas. Ele fez isso porque é muito determinado, e a peça, encenada no Teatro Édouard VII, em Paris, foi um triunfo."
Hoje, diante dos ataques, o cantor permanece em silêncio e se abstém de se aprofundar nas redes sociais. A Yonathan Arfi, presidente do CRIF, que o contatou há alguns dias, teria dito: "Tudo isso está causando mais barulho do que dano". Yonathan Arfi, por sua vez, está triste com a polêmica. "Há algo de essencializante nesses movimentos de rejeição. Eles fazem de todo franco-israelense um culpado por definição. No entanto, atacar Amir, que fez carreira na França e mora na França, é atacar a vida cultural francesa."
lefigaro