Em meio aos escombros do terremoto, uma jornada vira história em quadrinhos.

L'AQUILA – Casas escoradas, bares reabertos em meio a mil dificuldades, vales que se abrem após subidas verticais, praças esvaziadas pelo silêncio. Durante 14 dias e 257 quilômetros, o cartunista romano Valerio Barchi percorreu o "Cammino nelle Terre Mutate", a trilha que atravessa as cidades devastadas pelo terremoto, de Fabriano a L'Aquila, duas das cidades que simbolizam a devastação. Amanhã, ele finalmente chegará à capital de Abruzzo, ao final de uma experiência destinada a virar história em quadrinhos em 2026, coincidindo com o décimo aniversário do terremoto na Itália Central. Um caderno de desenho, o aplicativo Wikiloc sempre ativo e sapatos desgastados pelas subidas acompanharam o autor em uma jornada que conecta comunidades e cidades devastadas pelos tremores. "Ao caminhar, tento não ter expectativas", diz ele. "Deixo-me surpreender pelas paisagens e pelos encontros. Então, aos poucos, as cenas se juntam e se tornam história." Partindo de Fabriano, o artista visitou Castelluccio di Norcia, Arquata del Tronto, Accumoli e Amatrice, percorrendo em média vinte quilômetros por dia. Antes de entrar em L'Aquila, ele passará pelo vilarejo de Collebrincioni, a última parada antes do destino. Ele também havia embalado suas "ferramentas do ofício" — aquarelas — na mochila, mas já na segunda etapa teve que escolher: "Ou os desenhos ou meu joelho". O peso se fez sentir, forçando-o a desistir e adiar a pintura para mais tarde, limitando-se a anotações rápidas e esboços para serem transformados em desenhos ao retornar. Entre os lugares que mais o impressionaram estava Amatrice, a cidade da província de Rieti que desapareceu nos terremotos de 2016. De um lado, os escombros ainda pairando; do outro, a força de pequenas comunidades e associações que mantêm viva a esperança. "É como brasas sob as cinzas", observa ele, "a vida que continua apesar de tudo". As paradas se transformam em momentos de escuta: em Matelica, Camerino, Norcia e até mesmo nas áreas mais atingidas da província de Rieti. Histórias coletadas sem um roteiro pré-escrito, mas com a atenção de quem caminha para observar e compreender. "Eventualmente, terei que encontrar um fio condutor. Talvez ele apareça logo na última etapa, entrando em L'Aquila", explica. Nascido em Roma em 1985, Barchi viveu no exterior por quatorze anos: como carteiro na Holanda, garçom em Istambul, artista de rua em Taiwan. Ao retornar à Itália, escolheu a aquarela como meio para narrar suas viagens. Criou obras como "Ginostra", "Bona Via!", "Fogarina", "Fango" e "Agata fuori le mura". Não é a primeira vez que transforma uma viagem em história em quadrinhos: já o fez com a Via Francigena, narrada em painéis que misturam história, encontros e paisagens (como "Bona Via!"). Desta vez, o desafio ligado à Caminhada nasceu em um laboratório universitário dedicado ao planejamento social, que desde o início colocou a memória das comunidades atingidas pelo terremoto no centro. "Sei pouco sobre o terremoto de L'Aquila porque estava na Índia na época", admite Barchi. "Sei sobre a Casa dos Estudantes, os desabamentos, a basílica, mas não como o terremoto afetou a vida cotidiana nos anos seguintes. Estou aqui para entender." Para ver com os próprios olhos e desenhar com os próprios dedos.
ansa