“Obrigado, Presidente”: FC Porto e o Dragão despedem-se de Pinto da Costa

O resultado era importante, mas a defesa da memória de Jorge Nuno Pinto da Costa era a primeira prioridade. Em caso de triunfo, o jogo entre FC Porto e V. Guimarães tinha o condão de reaproximar os portistas da liderança do campeonato, mas, mais do que isso, tratava-se do regresso ao Dragão após o desaparecimento terreno do presidente portista.
Os portistas sentiram a carga simbólica desta noite e a dia de semana, com apito inicial marcado para as 20h15, os adeptos encheram o estádio, na derradeira despedida a Pinto da Costa.
Nas bancas de adereços junto ao estádio, o aumento de afluência era notório. Um cachecol com a cara de Jorge Nuno Pinto da Costa e os 69 títulos conquistados no futebol ocupava lugar de destaque. "Tenho a certeza de que vai ser o mais vendido hoje", afiançava o comerciante responsável pela banca, sem mãos a medir para a clientela. Questionado se tinha encomendado mais de dois mil cachecóis para o jogo de lotação esgotada, seguiu-se uma gargalhada recheada de sarcasmo. "Já foram tempos, amigo. Agora anda mais à volta dos 500", adiantava.
Há exactamente uma semana, o caixão de Pinto da Costa era colocado no relvado do estádio para o último adeus. Foi no recinto que Pinto da Costa idealizou, construiu e baptizou que mais de dez mil adeptos agradeceram as conquistas e alegrias. Um enorme pano no exterior do estádio com a cara do presidente e a inscrição "presidente dos presidentes" substituiu a tarja publicitária reservada à Super Bock.
No exterior do estádio, a claque Colectivo 95 pintou um mural do dirigente. A ideia, retirada de um dos míticos discursos do ex-presidente, mostra Pinto da Costa a agitar papéis com expressão enérgica. Aos pés da imagem do dirigente, dezenas de coroas e velas iluminavam a noite que se instalava de mansinho. Apesar da chuva, Valdemar Freitas capta calmamente uma fotografia do mural de homenagem ao ex-dirigente.
"Foi a pessoa que nos levou ao sucesso dos últimos 42 anos. Foi ele que contratou os treinadores e teve visão de futuro, escolheu acertadamente. Não foi só sorte, foi fruto de muito trabalho", analisa o adepto. Na casa dos 60, acompanhou de perto o longo reinado de Pinto da Costa no Dragão, admitindo ter ficado próximo das lágrimas quando recebeu as notícias.
No interior do estádio, a noite foi de emoções fortes. O pano gigante que exibia Pinto da Costa com uma coroa e dois dragões de ouros ao lado, usado para cobrir o viaduto junto ao Dragão apenas minutos após ser conhecida a morte do ex-presidente, voltou a cobrir o sector reservado à claque.
Na bancada central, o FC Porto fez subir uma tarja que mostrava o antigo dirigente junto ao vasto palmarés de quatro décadas. Ao minuto 42, número que marca o número de anos de presidência, um pano com a cara de Pinto da Costa voltou a descer a bancada dos Super Dragões. "Uma pessoa só morre quando morrer a última pessoa que a ame", podia ler-se em pequenas faixas espalhadas pela bancada.
A cada tributo, o Estádio do Dragão irrompia em aplausos e ovações. Os mais de dez mil cachecóis e adereços deixados junto ao estádio foram entretanto retirados, com os adeptos a aguardarem ansiosamente por mais informações sobre o memorial de homenagem prometido pela actual direcção, liderada por André Villas-Boas.
publico