Cartas ao director

Agostinho Costa, o simpatizante da Rússia
Agostinho Costa, o major-general – nunca o ouvi criticar a política expansionista da Rússia – que tece comentários sobre o desenvolvimento da guerra na Ucrânia, afirmou, há dias, na CNN que “o Ocidente é uma nave de cegos comandada por um louco”. Deduzo quem seja o "louco” para A. Costa, mas não o mencionou. O major-general, a cada passo, desvaloriza e menospreza a União Europeia e exemplo disso foi a infeliz afirmação que expendeu. Acredito que Putin para Agostinho Costa não seja “louco”, mas um homem sensato, um líder pacificador que invadiu a Ucrânia matando milhares e milhares de ucranianos (homens, mulheres, crianças, idosos) – e continua a matar – com a finalidade purificadora de desnazificar este país que, segundo ele, ameaça a Rússia.
Mais: o sensato e pacificador Putin pretende desmilitarizar a Ucrânia e não quer que faça parte da NATO. A Ucrânia, como país soberano e independente, não tem o direito de ter forças militarizadas e não pode aspirar a ser um membro da NATO? O déspota Putin pode impor o seu diktat? Em suma: o que Putin pretende é subjugar totalmente a Ucrânia – se o deixarem – subtraindo-lhe a identidade. O Ocidente e os Estados Unidos permitir-lhe-ão essa obsessão doentia? Se lho permitirem, é caso para dizer que chegou A Hora dos Predadores – título da recente obra de Giuliano da Empoli, um livro extraordinário de leitura obrigatória segundo o France Inter.
António Cândido Miguéis, Vila Real
Percepções
Afinal, Portugal é mesmo o país das percepções. Das falsas percepções e das percepções. Se de um lado falam constantemente das falsas percepções de segurança, do outro não tinham percepção de que talvez fosse importante ser como a mulher de César. Já a plebe também tem várias percepções. Uma delas é que os impostos são demasiado elevados para aquilo que se obtém em troca. Outra é que os serviços considerados "pilares da democracia" estão a precisar de uma reanimação profunda. Mas, claro, são só percepções.
Luís Roque, Sertã
O significado das palavras
São dois os tandens lexicais que venho trazer à colação, ambos do PÚBLICO de sexta-feira: "civilização judaico-cristã/civilização ocidental" ou "constituição processual/substantiva" e "crescimento/desenvolvimento". O primeiro vem glosado por dois autores, António Rodrigues (A.R.) e Francisco Mendes da Silva (F.M.S.), respectivamente, com necessária adaptação minha. O segundo somente ao segundo dos autores pertence. Neste último, que será então a "Constituição processual" senão a expressão de cúpula jurídica conservadora/liberal/democrática da chamada "civilização ocidental" provinda do iluminismo, deixando para plano secundário a "processual" duma extrema-direita "judaico-cristã" que tão na moda vai estando com a "tomada de assalto" que tenta à Constituição da República? Deixo para apreciação de outros. E avanço para o segundo item, ainda com as palavras. Na coluna três das quatro que escreveu, A.R. contradiz-se ao fazer equivaler "desenvolvimento" ao "crescimento" por si verberado ao citar um estudo dum casal do MIT norte-americano – "Os limites do crescimento" – também inimigo do "crescimento a outrance", que será a causa do "fim do mundo" lá para 2040. Desenvolvimento é funcional e desejável, crescimento é somente numérico e lamentável. Palavras? Sim, mas têm de ter significado.
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto
Cortiça
Pelos vistos, a imposição de taxas em produtos que entram nos Estados Unidos, decretada pelo Donald Trump, que de forma totalmente subsmissa a chefe da Comissão Europeia assinou pelos 27 Estados-membros da União Europeia, isenta a cortiça de Portugal de taxas. Ou seja, os EUA precisam para diversas áreas da cortiça portuguesa, e não vão querer que fique mais dispendiosa aos norte-americanos, que a utilizam como componente de vários produtos que fabricam. Se os produtores portugueses de cortiça começarem já, rapidamente, a procurar novos clientes, novos compradores, fora dos EUA... é que esta benesse de Trump e companhia não é por consideração aos produtores de cortiça, mas só por necessidade extrema norte-americana. Se não houvesse para lhes vender, talvez não fosse mau de todo.
Augusto Küttner de Magalhães, Porto
publico