Governo só discute envio de tropas para a Ucrânia após plano de paz, diz Nuno Melo
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O ministro da Defesa Nacional Nuno Melo defende que um eventual envio de tropas portuguesas para a Ucrânia só deve ser discutido depois de estar concretizado um plano de paz, mas que essa decisão "não está nem sequer a ser avaliada". O governante falou esta terça-feira na comissão parlamentar de Defesa, tendo sido questionado por vários deputados também sobre a posição do executivo em relação à administração de Donald Trump. Em resposta, Nuno Melo vincou mais do que uma vez que "não confunde" a aliança com os Estados Unidos da América (EUA) com uma determinada administração.
"Quando se está a discutir um plano de paz, concretiza-se esse plano e depois, em função disso, a necessidade de avaliar ou não o envio de tropas. (...) Vamos tratar do plano de paz que todos nós desejamos, e depois então ponderar a eventual necessidade da participação militar, sempre no contexto dos nossos aliados", afirmou o ministro da Defesa, depois de ter sido questionado pelo deputado do PS Luís Dias.
Mais tarde, em resposta ao deputado do BE Fabian Figueiredo, Nuno Melo sublinhou que a decisão de enviar ou não tropas "não está nem sequer a ser avaliada". Reforçou que "os planos de paz devem ser trabalhados com discrição", considerando essa condição "incompatível com qualquer resposta precipitada" sobre a "arquitectura" que considera que um plano de paz deve ter.
Sobre se o Governo português continua a considerar os EUA como um aliado apesar das posições de Donald Trump, Nuno Melo diz estar focado em "contribuir para a preservação do vínculo transatlântico e não criar razões para um afastamento ainda maior". O ministro entende que "os países europeus da NATO devem de forma crescente investir" no sentido de "criar condições para depender muito mais de si" e ver os "norte-americanos como parceiros e não apenas como chapéu protector".
O tema da confiança na actual administração norte-americana também foi abordado pelo deputado do BE e, em resposta, o governante destacou que Portugal não presta auxílio à Ucrânia "sob pretexto do uso dos seus recursos naturais", como manifestado pelos EUA. Quanto às afirmações do recém-eleito chanceler alemão Friedrich Merz, que defendeu a independência da Europa face ao país norte-americano, Nuno Melo diz ter interpretado dessas afirmações que "há uma necessidade de se aprofundar, no actual contexto geopolítico, o pilar europeu da NATO e deve ser aquilo que nos deve motivar muito nos próximos tempos".
Do Livre, Paulo Muacho sublinhou que "o compromisso da NATO é assente numa relação de confiança mútua e numa garantia de defesa mútua e que, quando assistimos a responsáveis a pôr em causa" essa resposta, "podemos estar num fechar de ciclo no que diz respeito a este contexto geopolítico internacional". O ministro da Defesa voltou a salientar que vê "na aliança transatlântica uma virtude" que, no panorama geral, "nos tem assegurado paz duradoura".
Salários, habitação e formação de pilotosNa sua intervenção inicial, Nuno Melo sublinhou um conjunto de medidas implementadas pelo actual executivo, realçando um aumento de salários e de suplementos, permitindo que cada militar receba "em média, mais dois salários brutos por ano". O ministro referiu ainda o protocolo assinado hoje para a recuperação de 15 edifícios para habitação (em Lisboa, Porto, Oeiras, Constância, Vendas Novas e Leiria) com recurso a verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), num investimento de 31,1 milhões de euros.
De acordo com o governante, estes prédios serão "devolvidos às cidades para habitação" em modelos de "arrendamento de baixo custo, apoio social e alojamento temporário" para militares.
O ministro mostrou também, através da apresentação de dois gráficos que, no que toca ao recrutamento, "não só estancámos como aumentámos o número de militares das Forças Armadas depois de perdas consecutivas durante oito anos". O número actual é de 23.678 militares, mais 60 em cerca de mês e meio.
Por outro lado, recordou o deputado do Chega Nuno Simões de Melo, os pilotos continuam a sair das Forças Armadas. Nuno Melo reconheceu esse problema, mas garantiu que "há cem pilotos em formação", dos quais 20 poderão começar a assumir as suas funções em 2027.
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