Para os alemães mais jovens venceria a extrema-esquerda (com a AfD logo a seguir)
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Os resultados das eleições na Alemanha não foram ao encontro dos votos dos eleitores mais jovens, a faixa etária que rejeitou o centro e se inclinou para os extremos opostos do espectro político.
No domingo, 23 de Fevereiro, o partido conservador liderado por Friedrich Merz conquistou 28,5% dos votos e venceu as eleições. Mas, segundo a sondagem à boca das urnas para a estação pública alemã, a ARD, citada também pela Deutsche Welle, a União Democrata-Cristã/União Social-Cristã (CDU/CSU) teve o seu pior resultado entre os alemães dos 18 aos 24 anos, contando com apenas 13% dos votos deles.
Os favoritos dos jovens são óbvios — e extremados. O Die Linke foi o mais votado por eleitores entre os 18 e os 24 anos, com 25% dos votos (na faixa etária seguinte, entre os 25 e os 34 anos, o partido progressista com valores económicos socialistas conquistou apenas 15% dos votos). Segue-se a extrema-direita, a AfD, com 21% dos votos.
Foi com a ajuda do eleitorado mais juvenil que o Die Linke/A Esquerda ressurgiu na política alemã (no início do ano, as sondagens punham o partido do lado de fora do parlamento alemão, após a saída de Sahra Wagenknecht). O partido obteve 27% de apoio entre os eleitores que votaram pela primeira vez, superando os 20% da AfD. Para a esquerda, o motivo deste regresso parece claro: Heidi Reichinnek, a líder do partido que se tornou uma estrela nas redes sociais.
Heidi Reichinnek tem 36 anos. Há meio ano era relativamente desconhecida na política alemã e passou de deputada mais jovem do grupo parlamentar a representante do partido. Sai destas eleições com 8,6% dos votos, um grupo parlamentar de seis deputados e como a cara da esquerda alemã.
@heidireichinnek Die spontane Rede nach dem Dammbruch.
? original sound - Heidi Reichinnek, MdB
Uma das suas imagens de marca é a tatuagem que tem no braço esquerdo: uma representação de Rosa Luxemburg, filósofa e economista revolucionária.
Durante a campanha, Reichinnek alcançou mais de 590 mil seguidores no TikTok e mais de 500 mil no Instagram. Um dos vídeos que chegou a mais utilizadores das redes sociais mostra-a a discursar contra as políticas migratórias de Merz. É um feito num momento em que partidos de extrema-direita e discursos anti-imigração inundam as campanhas nas redes sociais, e não as ideias sobre controlar o preço das rendas e do aquecimento, ou defender mais orçamento para o estado social em vez de para a defesa.
No vídeo, que segundo o partido foi visto mais de 30 milhões de vezes, Heidi acusa o novo chanceler alemão de ser cúmplice da extrema-direita no tema da imigração e de “mudar o país para pior”. “Acabou de dizer que ninguém do seu partido está a tentar entrar em contacto com a AfD”, gritou, enquanto acusava a CDU de estar alinhada com a extrema-direita.
A batalha contra a extrema-direita, e consequentemente contra a AfD (Alternativa pela Alemanha), é outro dos principais focos de Heidi Reichinnek.
"Não desistam, lutem de volta, resistam ao fascismo!", disse, num dos seus últimos discursos parlamentares.
“Fizemos um excelente trabalho nas redes sociais. Quebrámos a onda da AfD. Conquistámos a juventude para nós”, afirmou Reichinnek, numa conferência de imprensa após as eleições, citada pelo El País.
Mas o Die Linke também saiu à rua. Nas semanas que antecederam as eleições, os membros do partido fizeram campanha porta-a-porta e encontros por várias cidades do país.
Nos resultados eleitorais, embora a esquerda tenha subido, os Verdes registaram uma descida considerável, especialmente nos boletins dos jovens. Em 2021, o partido tinha sido um dos favoritos dos cidadãos com menos de 30 anos. Este ano tiveram uma das suas percentagens de votos mais baixas neste grupo etário: contaram apenas com 10% dos votos dos jovens entre os 18 e 24 anos.
A Esquerda beneficiou desta perda, contextualiza a Deutsche Welle: ganharam 700 mil votos.
Homens votaram mais na extrema-direitaTal como se tem vindo a confirmar noutros países da União Europeia, como Portugal, as mulheres votaram mais à esquerda — Die Linke, o SPD (Partido Social-Democrata) e os Verdes — e os homens mais à direita — CDU e AfD.
A diferença entre géneros não foi expressiva na maioria dos partidos, variando entre 1 e 2 pontos percentuais, mas é na AfD que homens e mulheres se distanciam mais. Segundo a sondagem, 17% das mulheres votaram na AfD, que angariou 24% dos votos dos homens.
Texto editado por Renata Monteiro
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