Organizar dinheiro: psicóloga alerta sobre o que hábito pode revelar

Organizar dinheiro de forma milimétrica — colocando as notas de menor para a maior — pode parecer apenas um hábito inofensivo ou até uma mania de quem gosta de tudo no lugar. No entanto, segundo a psicóloga e neuropsicóloga Cibele Santos, esse gesto pode estar relacionado a padrões mais profundos de controle, perfeccionismo e, em alguns casos, ao Transtorno Obsessivo-Compusivo (TOC).
“Muitas vezes, as pessoas realizam esse tipo de organização como uma forma de aliviar a ansiedade ou se sentir no controle de algo”, explica Cibele. “O ato de organizar dinheiro, em si, não é patológico, mas o que o sustenta emocionalmente pode ser.”
Quando o hábito com o dinheiro ultrapassa o limite do controleSegundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o TOC é caracterizado por obsessões e compulsões. As obsessões são pensamentos indesejados e intrusivos, enquanto as compulsões são comportamentos repetitivos usados para tentar aliviar o desconforto causado por essas obsessões.
Organizar dinheiro, nesse contexto, pode se encaixar em diversas manifestações do TOC:- Obsessões contábeis: quando a pessoa sente a necessidade de contar e ordenar objetos como forma de evitar um desastre imaginário.
- Rituais de verificação: a constante checagem de que tudo está “em ordem”, como a sequência de notas na carteira.
- Perfeccionismo disfuncional: não tolerar ver as notas misturadas ou fora do alinhamento, sentindo angústia até reorganizá-las.
“Quando o indivíduo sente que precisa ordenar as notas de dinheiro de forma rígida, e isso se torna uma condição para sentir alívio, é importante observar com atenção. Esse pode ser um dos vários rituais que fazem parte do TOC”, pontua a neuropsicóloga.

Cibele Santos ressalta que é comum a confusão entre TOC e perfeccionismo. Apesar de parecerem semelhantes, a diferença está no impacto emocional e funcional.
“O perfeccionismo pode até ser adaptativo em certas profissões ou contextos. Já o TOC causa sofrimento. A pessoa sabe que é exagero, mas não consegue parar. Ela se sente dominada pelos pensamentos e obrigada a seguir os rituais”, explica.
Esse ciclo pode comprometer a rotina, os relacionamentos e a qualidade de vida. O tempo gasto com os rituais, como organizar notas diversas vezes ao dia, pode atrapalhar compromissos simples, atrasar tarefas e gerar isolamento.







Setembro Amarelo: salto de internações em SP põe saúde mental em foco
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A campanha Setembro Amarelo é uma ação dedicada à conscientização e prevenção do suicídio. Lançada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
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É importante que os familiares e amigos próximos ofereçam ajuda ao perceber os sinais de depressão
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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos
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O isolamento social também é um fator de risco importante. É fundamental que a pessoa mantenha um círculo social e uma rede de apoio
Richard Drury/Getty ImagesDe acordo com a especialista, o primeiro passo para lidar com possíveis sinais do TOC é a auto-observação. “Se a organização do dinheiro ou qualquer outro comportamento está ligado à ansiedade, sofrimento ou prejuízo funcional, é hora de procurar ajuda profissional.”
O tratamento mais eficaz, segundo Cibele, é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que trabalha a reestruturação dos pensamentos obsessivos e ajuda o paciente a resistir às compulsões. Em alguns casos, o acompanhamento psiquiátrico com uso de medicação também é indicado.
A psicóloga reforça que o TOC tem tratamento e que a vida pode ser retomada sem o peso dos rituais. “A pessoa não precisa viver aprisionada a esses comportamentos, como o de organizar milimetricamente seu dinheiro. Buscar ajuda é um ato de coragem e cuidado consigo mesmo.”

Em entrevista anterior ao Metrópoles, o psiquiatra Leonardo Fontenelle, professor de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e investigador sênior do Instituto D’Ór, ressaltou que 90% dos indivíduos com TOC apresentam outro transtorno psiquiátrico associado, além de terem depressão e fobia social. “São pessoas muitas vezes excessivamente tímidas e inibidas, com medo de falar em público e serem julgadas”, diz o médico.
No entanto, os problemas vão muito além disso. Pessoas com TOC estão mais propensas a desenvolverem o Transtorno Dismórfico Corporal, ou seja, elas acreditam sofrer uma constante deformidade física e estão sempre preocupadas com a aparência, como nariz, cabelo, pele e etc.
“O Transtorno Dismórfico Corporal pode mexer tanto com o indivíduo ao ponto dele ficar o tempo todo se olhando no espelho ou realizando cirurgias plásticas desnecessárias”, afirma Fontenelle.
Outro transtorno relacionado é a acumulação. Às vezes, os acumuladores juntam tantas coisas que não conseguem mais utilizar ambientes da própria casa.
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