Saúde. Encefalite transmitida por carrapatos: confirmada a preocupante contaminação por queijo de leite cru

"Este é um modo de transmissão nunca antes observado na França", informou a Agência Nacional Francesa de Saúde e Segurança Alimentar, Ambiental e Ocupacional (ANSES) sobre o surto de casos de encefalite transmitida por carrapatos que ocorre desde 2020. E por um bom motivo: esta doença rara (geralmente 35 casos por ano na França) tem experimentado um surto real nos últimos anos. É causada pelo vírus TBE ( encefalite transmitida por carrapatos ), que pertence à mesma família do vírus do Nilo Ocidental ou da dengue . De acordo com a Santé publique France, a transmissão é geralmente feita por picadas de carrapatos e, raramente – até agora – pela ingestão de leite cru de cabra ou ovelha, após esses animais terem sido picados.

Mas as coisas mudaram: "Desde 2020, casos ligados ao consumo de produtos lácteos crus […] foram relatados", afirma a ANSES, que especifica que isso é uma novidade no país. O resultado é uma "extensão geográfica da presença do vírus e um aumento no número de casos na Europa, considerando todas as vias de transmissão combinadas".

As autoridades de saúde alertam: esta doença pode ser grave. Dos 71 casos graves estudados entre 2021 e 2023, 94% necessitaram de hospitalização, e as sequelas persistiram em 30 deles, incluindo uma das quatro crianças infectadas.

Em 2020, casos "nativos" ocorreram em departamentos que já haviam sido afetados anteriormente: Alta Saboia, Alto Reno, Baixo Reno, Loire, Ain, Puy-de-Dôme, Isère e Saboia. Até então, vestígios de picadas de carrapatos sempre foram observados. Mas Ain registrou um número recorde de 43 casos naquele ano, mais do que em todo o país em um ano inteiro. Outros departamentos que haviam sido poupados antes de 2020 foram rapidamente afetados, ainda no leste da França: Rhône, Ardèche, Cantal, Doubs, Vosges, Meurthe-et-Moselle, Marne, Moselle e Alto Saône.

Na região do Rhône, rapidamente foi feita uma ligação com uma rara intoxicação alimentar coletiva, atribuída ao queijo de cabra fresco feito com leite cru de um rebanho local. Mas, mais importante ainda, a ANSES observa que, também na região de Ain, as 43 pessoas doentes consumiram queijo de cabra cru da mesma fazenda. Todas apresentaram sintomas semelhantes aos da gripe ou meningite.

Em seu relatório publicado em 8 de julho, a ANSES pede maior colaboração entre agricultores e cientistas para melhorar a detecção e prevenir melhor o risco de infecção: "Muitas questões permanecem sobre os mecanismos de circulação e transmissão do vírus", explica Elsa Quillery, co-coordenadora do texto. Ela acrescenta que "pesquisas devem ser conduzidas sobre [...] as cepas que circulam na França, os fatores de risco de transmissão e o impacto dos componentes do leite e dos métodos de processamento do leite na persistência de vírus infecciosos em produtos lácteos". O vírus está agora presente em toda a França – com exceção da região do Mediterrâneo.