Doença voltou a atirar natação dos EUA para o fundo do poço

Uma gastroenterite. Esta a causa oficial que explica a falta de resultados dos Estados Unidos da América, uma das potências da modalidades, nos Campeonatos do Mundo de natação, que decorrem, até este domingo, em Singapura, já depois de a comitiva norte-americana ter tido, em Paris-2024, a pior prestação em Jogos Olímpicos desde 1956, em Melbourne. Curiosamente, numa modalidade em que o pico de carreira dos atletas se cifre na faixa etária que vai dos 18 aos 20 anos, a principal figura dos EUA continua a ser Katie Ledecky, que chegou em março aos… 28 anos. Apesar de as figuras de proa tardarem a aparecer, os Estados Unidos chegam ao último dia da competição na liderança do quadro de medalhas, com 26 no total: oito ouros, 11 pratas e sete bronzes.
Com 47 atletas presentes nos Mundiais de natação, os EUA até estão melhores do que em 2024, quando ganharam 20 medalhas, oito delas de ouro, mas nessa altura tinham apenas 20 atletas em competição. Em 2025, a média de medalhas por nadador caiu para menos de metade, e os dados são ainda mais negativos quando analisados individualmente: até ao momento, os atletas norte-americanos falharam a final em 25 das 69 provas que participaram (36,2%) e só 30 terminaram no top 5. Os dados tornam-se preocupantes tendo em conta que, dentro de três anos, o país vai sediar os Jogos Olímpicos, em Los Angeles, embora derivem de diversos fatores, como o baixo surgimento de talento e o corte do financiamento público às universidades, que são um dos motores do desporto no país, por parte de Donald Trump.
Um exemplo dado pela imprensa norte-americana aconteceu na final da estafeta 4×200 livres, em que os Estados Unidos terminaram na segunda posição, atrás da Austrália, e bateram o recorde das Américas (7.40,01). Numa equipa em que constavam ainda Claire Weinstein, Anna Peplowski e Erin Gemmell, Ledecky foi a última a entrar em ação e superou-se na piscina curta, fazendo os últimos 200 metros em 1.53,71, resultado que foi a quinta melhor marca da história, atrás do registo feito pela australiana Mollie O’Callaghan nesta prova (1.53,44, recorde pessoal), e que podia ter sido suficiente para o ouro, não fosse o que tinha acontecido antes. Gemmel mostrou-se aquém das rivais e companheiras de equipa, terminando a terceira estafeta em 1.56,72, o pior registo entre as 12 nadadoras que subiram ao pódio. Desse modo, os EUA perderam para as australianas por 66 centésimos (7,39.35).
Para além disso, ainda só venceram uma das seis estafetas realizadas, a mista de 4×100 livres (com recorde do mundo), já este sábado. Nas restantes registaram-se dois segundos lugares, um terceiro, um quarto e um não apuramento para a final. No domingo ainda haverá tempo para os norte-americanos atenuarem os resultados negativos, nas estafetas masculina e feminina dos 4×100 estilos. Ainda assim, os resultados são fracos para o país que dominou a natação até aos Jogos de Tóquio, em 2021. O ponto mais baixo apareceu mesmo em Paris, onde os Estados Unidos conquistaram 23% medalhas de ouro, um fracasso se tivermos em conta que, desde os Jogos de 1956, a média andava entre os 30% e os 50%. Em Singapura, a média está nos 23,5% (oito em 34, até este sábado) e nos 25,2% se acrescentarmos a prata e o bronze (26 em 103).
The greatest. pic.twitter.com/h3tsXU26em
— USA Swimming (@USASwimming) August 2, 2025
“A atmosfera geral da equipa tem sido muito boa. Estou muito satisfeito com a forma como eles lidaram com essa questão e como ainda estão a lidar com ela, considerando tudo o que nos aconteceu. Acho que superámos a situação nas últimas 24 horas”, partilhou, aos jornalistas, Steve Meehan, técnico da seleção norte-americana de natação, na quinta-feira. Para Meehan, a falta de resultados em Singapura deriva do estágio realizado em Phuket, na Tailândia, onde os nadadores sofreram um surto de gastroenterite aguda, que afetou principalmente Claire Weinstein, Luca Mijatovic e Torri Huske. Devido a essa doença, 11 atletas falharam a presença nas meias-finais, número que já se tinha repetido em Paris. A juntar ao número de nadadores que fracassaram nas eliminatórias da manhã aparecem Weinstein e Gretchen Walsh, que não alinharam nos 400 e 100 livres, respetivamente. Já a estafeta mista de 4×100 estilos, que bateu o recorde do mundo em Paris, ficou em 10.º nas eliminatórias devido à gastroenterite, segundo o treinador.
O setor feminino tem sido a principal força motriz da seleção dos Estados Unidos em Singapura e é, por esta altura, responsável por seis dos oito ouros (75%) e 19 das 26 medalhas (73,1%). Luca Urlando, nos 200 mariposa, é, até ver, o único homem a subir ao lugar mais alto do pódio na competição asiática.
observador